Utilizamos nosso corpo a partir daquilo que percebemos e experimentamos para traduzir nossas emoções e nossa vivência. Nosso corpo e personalidade são construídos por vários fatores: o genético, o ambiente, a família, a cultura, o comportamento e etc.
“Nessa complexidade, adotamos um modo específico (singular) de erigir e agir no mundo manifestando um estilo próprio de ser” (Goodelieve Denys- Struyf, 1995). Por esta perspectiva, o corpo é, com suas formas, posturas, movimentos e gestos, um instrumento de nos personalizar e comunicar. Nosso corpo é linguagem! Quando nos movemos, nosso gesto molda o nosso corpo exprimindo algo de nós. Muitas vezes, podemos revelar em nossa postura aquilo que nossas palavras não conseguem expressar.
Experimentamos várias ações e reações durante a vida. Esse processo se traduz no comportamento e na criação de um estilo de mover-se ao construirmos e desconstruirmos posturas para satisfazer necessidades e desejos. Isso é natural e saudável. Mas quando ultrapassamos nossos limites ou ignoramos nossa real aspiração o corpo reclama e dá sinais de insatisfação. Dores, limitações, fadiga e stress podem surgir como pedido de ajuda e mudança.
Portanto, conhecer e compreender os sinais do nosso corpo é tê-lo como um aliado na trajetória de nossa existência. Desse modo, é fundamental darmos “espaço” e “tempo” para sentirmos o nosso corpo, mesmo que seja para percebê-lo em dor e limitação ou sentir o calor e a pulsação ritmada em nossa pele quando fluímos em nossas ações e movimentos. O importante é que estejamos sempre “presentes” em nossas experiências e, a partir daí, que possa existir um “solo fecundo” (um ambiente favorável) para cuidarmos do nosso Corpo, quer seja por meio de alongamentos, massagens, caminhada, movimentos reestruturantes, fortalecimentos musculares, posturas e etc.
Na atualidade, o tipo de sofrimento que encontramos expressos em nosso corpo, está para além dos desgastes físicos decorrentes de intensas jornadas de trabalho, de horas de adaptação postural frente a um computador, de falta de tempo para cuidar-se, caminhar, etc. Este sofrimento humano ocorre também pela perda ou ausência do corpo como morada, das buscas legítimas que necessitamos respeitar para darmos sentido às nossas necessidades e aspirações mais essenciais, pela falta de sintonia com o ritmo e pulsação pessoais que contemplem nossa característica física e emocional. O homem perdeu referências tão fundamentais como as que advêm de seu próprio corpo.
O que assinalo é para a necessidade de acolhermos e cuidarmos dos sinais do corpo para além do puramente mecânico e funcional. De não só buscarmos o alívio das dores e a correção da forma para uma melhor “sustentação” do cotidiano, mas sim, e por meio destes sinais e sintomas, favorecer o viver em um CORPO que, dentre suas queixas e sinais, demanda o encontro com a sua singularidade e sua história.
Bibliografia
– Gilberto Safra – “A poética na clínica contemporânea”(2004).
– Godelieve D. Struyfs – “Cadeia Musculares e Articulares” (1995).
– Samira C. Zar – “Do soma ao corpo: Revisitando a clínica fisioterápica e acolhendo o corpo humano” (2008).