Fisioterapeuta e Mestre em Psicologia Clínica.

O ponto de partida do meu trabalho e que hoje denomino abordagem Corpo Morada se deu, desde o início da minha prática clínica como fisioterapeuta, pela necessidade e vontade de compreender o homem em sua trajetória de saúde, adoecimento, enfermidades físicas e possibilidades de cura, para além do estudo e conhecimento do movimento humano e seu funcionamento (objeto de estudo da Fisioterapia, enquanto conteúdo das ciências biológicas). Pois, ao longo de minha experiência profissional em serviços públicos e privados, constatei que os referenciais teóricos e técnicos, pelos quais me formei para avaliar e tratar meus pacientes não estavam sendo suficientes para que os atendesse acolhendo sua subjetividade, deflagrando assim, muitas vezes, em casos dolorosos e deformantes persistentes ou recidivos.

Esta questão mostrou-se fundamental para sustentar minhas observações sobre a maneira peculiar de como cada ser humano sente e percebe o seu próprio corpo solicitando-me também uma forma singular para tratá-lo. Nem sempre as propostas terapêuticas que escolhia, lançando mão de algumas técnicas, conseguiam alcançar o objetivo de tratar, prevenir ou restabelecer disfunções ou dores de determinados pacientes.

Havia um “a priori” à técnica, que era a maneira e o estilo de cada pessoa frente às suas possibilidades, ou não, de apropriação de seus corpos para interagirem com o tratamento e beneficiar-se dele. Fui criando assim, novas formas de comunicação e realização de minha prática para alcançar meus pacientes colocando-os antes e acima da técnica.

Em diversas situações clínicas deparei-me com pessoas com demandas corporais onde seu estado emocional era maior ou tão limitante quanto o quadro físico que se apresentava. As tensões e os “arranjos” desta apresentação física mostravam-me a complexidade da questão… Faltava-me, porém, outros recursos para a compreensão da condição dos pacientes, gerando uma salutar inquietude para buscar novos conhecimentos para minha mudança de clínica.

Foi na aproximação da teoria do amadurecimento de Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, que encontrei sustento para apontar uma perspectiva de cuidado a um corpo como morada do ser e que pode fomentar à clínica fisioterápica maior riqueza na relação com o paciente e eficácia terapêutica.

Vários foram os métodos que contribuíram para a construção desta abordagem, pois sempre busquei formas não endurecidas de tocar, mover e se envolver no cuidado ao corpo de uma pessoa. Sempre busquei compreender e estimular a forma peculiar de cada pessoa acessar sua espontaneidade e vitalidade para retornarem ao caminho rumo a Saúde. Claro está que esta se conquista integrando corpo e emoções.